quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Wohl geh' ich täglich ...



Wohl geh' ich täglich andere Pfade, bald
Ins grüne Laub im Walde, zur Quelle bald,
Zum Felsen, wo die Rosen blühen,
Blicke vom Hügel ins Land, doch nirgend,

Du Holde, nirgend find ich im Lichte dich
Und in die Lüfte schwinden die Worte mir,
Die frommen, die bei dir ich ehmals
...

Ja, ferne bist du, seliges Angesicht!
Und deines Lebens Wohllaut verhallt, von mir
Nicht mehr belauscht, und ach! wo seid ihr
Zaubergesänge, die einst das Herz mir

Besänftiget mit Ruhe der Himmlischen?
Wie lang ists! o wie lange! der Jüngling ist
Gealtert, selbst die Erde, die mir
Damals gelächelt, ist anders worden.

Leb immer wohl! es scheidet und kehrt zu dir
Die Seele jeden Tag, und es weint um dich
Das Auge, daß es helle wieder
Dort wo du säumest, hinüberblicke.


Friedrich Hölderlin
(Lauffen am Neckar, 20 de março de 1770 — Tübingen, 7 de junho de 1843)

‘Another day’

Another day. I follow another path,
Enter the leafing woodland, visit the spring
Or the rocks where the roses bloom
Or search from a look-out, but nowhere

Love are you to be seen in the light of day
And down the wind go the words of our once so
Beneficent conversation...

Your beloved face has gone beyond my sight,
The music of your life is dying away
Beyond my hearing and all the songs
That worked a miracle of peace once on

My heart, where are they now? It was long ago,
So long and the youth I was has aged nor is
Even the earth that smiled at me then
The same. Farewell. Live with that word always.

For the soul goes from me to return to you
Day after day and my eyes shed tears that they
Cannot look over to where you are
And see you clearly ever again.


Friedrich Hölderlin
In English translation by David Constantine

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SERENATA



As glandes do pinheiro e a folhagem das bétulas
Cobriram teu telhado, onde a erva murchou.
Dorme em teu leito de palha, dorme feliz e tranqüila
à sombra das nuvens que a noite semeou.

Quando o inverno vier bater à tua porta,
vestido de branco, tal qual um pretendente,
sonha então um sonho bom que te acalente
ao abrigo de tuas paredes de madeira.

Sonha com o vento do verão, a cantar e a brincar,
embora gema lá fora a tempestade.
Sonha que sob a verde abóbada das bétulas
Repousas adormecida nos meus braços.


Erik Axel Karlfeldt
in Poesias
Tradução Ivo Barroso

Erik Axel Karlfeldt
The Nobel Prize in Literature 1931.

(1864-1931)

OUTRORA E HOJE



Meu dia outrora principiava alegre;
No entanto à noite eu chorava. Hoje,
mais velho,
Nascem-me em dúvida os dias, mas
Findam sagrada, serenamente.


Friedrich Hölderlin
Tradução de Manuel Bandeira

O CURSO DA VIDA



O meu espírito soltava-se nos céus, mas o
amor
Em breve o fez descer: a dor curva-o mais
para a frente ainda.
Percorro, assim, a órbita da vida
Para voltar à origem de onde vim.

Friedrich Holderlin
Trd, Manuel Bandeira

domingo, 25 de outubro de 2009

7



Em mim a morte, em ti minha vida;
tu distingues e concedes e divides o tempo;
o quanto quiseres, breve e longo é meu viver.
Feliz estou com sua cortesia.
Feliz da alma que não vê correr o tempo,
por ti passou a contemplar a Deus.

Michelangelo
in Poemas
Tradução de Nilson Moulin

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

'A Song Of Eternity In Time'



Once, at night, in the manor wood
My Love and I long silent stood,
Amazed that any heavens could
Decree to part us, bitterly repining.
My Love, in aimless love and grief,
Reached forth and drew aside a leaf
That just above us played the thief
And stole our starlight that for us was shining.


A star that had remarked her pain
Shone straightway down that leafy lane,
And wrought his image, mirror-plain,
Within a tear that on her lash hung gleaming.
"Thus Time," I cried, "is but a tear
Some one hath wept 'twixt hope and fear,
Yet in his little lucent sphere
Our star of stars, Eternity, is beaming."


Sidney Lanier
(1842-1881 / Macon / Georgia)

DA REALIDADE



Que renda fez a tarde no jardim,
Que há cedros que parecem de enxoval?
Como é difícil ver o natural
Quando a hora não quer!
Ah! Não digas que não ao que os teus olhos
Colham nos dias de irrealidade.
Tudo então é verdade,
Toda a rama parece
Um tecido que tece
A eternidade.


Miguel Torga
In: Antologia Poética

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

RAMO EM FLOR



Para cá e para lá
sempre se inclina ao vento o ramo em flor,
para cima e para baixo
sempre meu coração vai feito uma criança
entre claros e nebulosos dias,
entre ambições e renúncias.
Até que as flores se espalham
e o ramo se enche de frutos,
até que o coração farto de infância
alcança a paz
e confessa: de muito agrado e não perdida
foi a inquieta jogada da vida.



Hermann Hesse
In: Andares

DE PASSAGEM



Não fiques triste: já vem vindo a noite
quando veremos sobre a terra esbranquiçada
a Lua fria, como que a rir-se por dentro,
e então descansaremos de mãos dadas.


Não fiques triste: já vem vindo o tempo
quando teremos sossego. Nossas cruzinhas estão
erguidas juntas na margem clara da vida,
chove e neva,
e os ventos vem e vão.



Hermann Hesse
In: Andares

Frühlingsglaube



Die linden Lüfte sind erwacht,
Sie säuseln und weben Tag und Nacht,
Sie schaffen an allen Enden.
O frischer Duft, o neuer Klang!
Nun, armes Herze, sei nicht bang!
Nun muß sich alles, alles wenden.

Die Welt wird schöner mit jedem Tag,
Man weiß nicht, was noch werden mag,
Das Blühen will nicht enden.
Es blüht das fernste, tiefste Tal:
Nun, armes Herz, vergiß der Qual!
Nun muß sich alles, alles wenden.

Johann Ludwig Uhland
(Germany)

Faith in Spring

The gentle winds are awakened,
They murmur and waft day and night,
They create in every corner.
Oh fresh scent, oh new sound!
Now, poor dear, fear not!
Now everything, everything must change.

The world becomes more beautiful with each day,
One does not know what may yet happen,
The blooming doesn't want to end.
The farthest, deepest valley blooms:
Now, poor dear, forget the pain!
Now everything, everything must change.


Johann Ludwig Uhland
Translation by Hyde Flippo


Primavera

Despertam docemente as brisas.
Sopram serenas, noite e dia,
por toda a parte a sussurrar.
Aroma tenro, nova melodia.
Agora, pobre coração, reanima-te:
Agora tudo, tudo mudará.

Faz-se o mundo mais belo cada dia.
Se o momento presente é tão feliz
o amanhã que surpresas não trará!
Floresce ao longe o vale mais sombrio.
Agora, pobre coração, esquece a mágoa
Agora, tudo, tudo mudará.

Johann Ludwig Uhland
Trad.: Henriqueta Lisboa

Evening clouds


Clouds seh I abendwaerts
Completely dipped into purest glow,
Clouds in light zerhaucht completely,
Had so stifling darkened.
Yes! my suspecting heart says to me:
Once still it becomes whether also late,
When the sun comes down,
Me the soul shade clarifies.

Johann Ludwig Uhland
(Germany-1787-1862)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Canção breve



Tudo me prende à terra onde me dei:
o rio subitamente adolescente,
a luz tropeçando nas esquinas,
as areias onde ardi impaciente.

Tudo me prende do mesmo triste amor
que há em saber que a vida pouco dura,
e nela ponho a esperança e o calor
de uns dedos com restos de ternura.

Dizem que há outros céus e outras luas
e outros olhos densos de alegria,
mas eu sou destas casas, destas ruas,
deste amor a escorrer melancolia.


Eugénio de Andrade

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Em uma Tarde de Outono



Outono. Em frente ao mar. Escancaro as janelas
Sobre o jardim calado, e as águas miro, absorto.
Outono... Rodopiando, as folhas amarelas
Rolam, caem. Viuvez, velhice, desconforto...

Por que, belo navio, ao clarão das estrelas,
Visitaste este mar inabitado e morto,
Se logo, ao vir do vento, abriste ao vento as velas,
Se logo, ao vir da luz, abandonaste o porto?

A água cantou. Rodeava, aos beijos, os teus flancos
A espuma, desmanchada em riso e flocos brancos...
Mas chegaste com a noite, e fugiste com o sol!

E eu olho o céu deserto, e vejo o oceano triste,
E contemplo o lugar por onde te sumiste,
Banhado no clarão nascente do arrebol...


Olavo Bilac,
in "Poesias"

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

SINTO-ME DISPERSADO. . .



Sinto-me dispersado
em areia, alga, vento.
Que ficou do passado,
se o que resta é o momento?


Uma caricia vaga,
indecisa, procura
o que a memória apaga;
e de tudo perdura


leve aragem, não mais,
docemente soprando
junto às margens de um cais
que está sempre esperando.


Alphonsus de Guimaraens Filho
In: Antologia Poética

VELEJAR. . .



Velejar para onde?
Para que mundo, acaso,
se esse mundo se esconde
ou nos chega com atraso?


Velejar para que,
se essa mesma distancia
que o coração antevê
com tão profunda ânsia


a nada mais conduz
que ao grande desalento
de ver que tudo é luz
dispersa em água e vento?



Alphonsus de Guimaraens Filho
In: Antologia Poética

CANÇÃO



O leve vento me leve
Para as praias de além-mar.
O leve vento me leve...

Quero um sopro de inocência
Para em luzes me banhar.
Onde estaria a saudade
Que afaga os caminhos mortos
E treme na luz das velas
Nos velórios de além mar?
Quero fugir da loucura
Que prende os corpos no mar.

Em tudo que me esperava
Jamais pureza encontrei.
Fui gemido, tédio, noite,
Fui vagabundo e fui rei.
E me buscando no mundo

No mundo não me encontrei.
Que o leve vento me leve
Para as praias de além-mar.
Que o leve vento me leve,
Me deite em praias macias,
Me dê as bocas macias
Das namoradas do mar.
Quero um sopro de inocência
Para em luzes me banhar.


Alphonsus de Guimaraens Filho
In Nostalgia dos Anjos

sábado, 10 de outubro de 2009

ENTRADA DE PRIMAVERA



O vento quente zune toda noite,
pesadamente rufla a sua asa molhada.
Aves pernaltas titubeiam no ar.
Nada mais dorme:
toda a terra está acordada,
a primavera chama.


Fica quieto, coração, fica quieto!
Mesmo que densa e íntima no sangue
agite-se a paixão
e caminhos antigos te seduzam:
de volta à juventude jamais te levarão.



Hermann Hesse
In: Andares
Tradução: Geir Campos

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

ANOITECER



Musgo negro.
Cheiro de chão em cálidos grânulos.
Grelos de prata finos e frágeis,
E o cântico de brancas campânulas.

Mudos se apagam os fogos murchos.
Um sopro só da morna maré.
Florindo, os mares rubros derretem;
Sugam sangue os sóis escuros.


Max Dauthendey
(1867-1918)
Tradução:André Vallias

ABEND

Schwarze Moose.
Erdgeruch in lauen Flocken.
Schmale dünne Silberblüten
Und Gesang von bleichen Glocken.

Welke Feuer löschen leise.
Nur ein Atmen warmer Flut.
Blühend schmelzen rote Meere,
Dunkle Sonnen saugen Blut.


Max Dauthendey

You are more than spring



Sweet lilac flowers appear on the tree but once a year;
Your breasts bloom for me every day; you are more than spring.

My desires shone brightly like chestnut shoots;
You brought them out into the sun. We sit under a roof of foliage,
Smiling at each other in the luscious shade.

Longing has scarred me like a tree struck by lightning;
Now your bees are with me, and my eyes overflow with your honey.


Max Dauthendey
Translated from the German by Johannes Beilharz
(Alemanha -1867-1918)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SE PERGUNTAREM POR MIM



digam
-que as raízes de meus ventos dispersaram tantas quimeras
mas que os vendavais de meus dias não perderam ainda suas cores
-que o sol, o mar e as areias da praia fluem
em mim como os acordes de Debussy num fim de tarde
-que todos os azuis e os verdes, às vezes, me habitam
-que, às vezes, sou uma pobre noite sem estrelas puras
-que meus sonhos de tão vagos não encontraram
janelas e nem portas
-que minhas semeaduras se deixam queimar magras,
bem antes que o sol se ponha
-que na musica de tantos dias e noites encontrei
violinos desafinados
-mas que
na chuva, de tão cinza ao cair
descobri nela
toda uma gama de coloração
de vida
rasgando estradas novas em esperança.


Se perguntarem por mim. . .



Alvina Nunes Tzovenos
In: Palavras ao Tempo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

RAJADA



há palavras
leves
como sementes de álamo

erguem-se
levadas pelo vento
e voltam a cair

difícil agarrá-las
porque se afastam muito
como sementes de álamo

há palavras
que mais tarde talvez
removerão a terra

que espalharão sombra
uma sombra delgada
ou talvez não


Hans Magnus Enzensberger
(Alemanha- 1929)
Tradução de Eugénio de Andrade