sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sopra-me



Sopra-me
que ao de onde procedo
haverei com levezas
de, então, retornar.
Com o calor de teu sopro,
de teu insuflar,
meus versos,
como pelúcias e pétalas,
no regaço das tardes,
no jardim das estrelas,
haverão assim de cair,
haverão de pousar.

Fernando Campanella

Ao Vento



Fica comigo, mas não posso pedir ao vento
que sopre ao alcance de meu ouvido,
ou à terra que abençoe meus segredos contigo –
nem mesmo da luz querer ouso
que se detenha em meu abrigo.
Quando os dados lançados, e até meu silêncio,
contra toda certeza parece que conspiram
- e caso os dedos do mundo
em suas recurvas unhas nos firam -
releva, e fica comigo: os anjos sabem mais alto
daquilo em que insisto, do que preciso.


(F.Campanella)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

“Days”



What are days for?
Days are where we live.
They come, they wake us
Time and time over.
They are to be happy in:
Where can we live but days?

Ah, solving that question
Brings the priest and the doctor
In their long coats
Running over the fields.


Philip Larkin
in ' The Whitsun Weddings', 1964
*Philip Arthur Larkin
(9 August 1922 – 2 December 1985, England)

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

E N T A R D E C E R



O crepúsculo desce! A tarde finda. . .
Que drama ante os meus olhos se descerra!
O sol, cansado da batalha infinda,
As pálpebras de luz no ocaso, cerra. . .


Silente a tarde a imensidade brinda!
Infinita saudade me soterra! . . .
Ante esta quadra misteriosa e linda,
Recordo-me dos céus de minha terra!


Olho o poente que aos poucos se avermelha!
Nesta contemplação a alma se ajoelha,
Deslumbra ao calor das grandes ânsias


E sequiosa do sol de outra paragem
Integra-se à beleza da paisagem
E mergulha na bruma das distancias! . . .



Jansen Filho
In: Obras Completas

domingo, 10 de janeiro de 2010

Isento



Mira-te pelo calendário das flores
Que são só viço e esquecimento.
Desprende-te dos ofícios do dia,
Apaga os números, os anos e anos,
Releva a data de teu nascimento.
E assim, por tão leve sendo,
Por tão de ti isento,
De uma quase resistência de pluma,
Abraça o momento,
Toma por bagagem os sonhos
E apanha carona no vento.


Fernando Campanella
(Poema em homenagem pelo aniversário
de minha amiga Maria Madalena)

sábado, 9 de janeiro de 2010


(Linnet, foto vy Fernando Gonçalves PT)

I envy not in any moods
The captive void of noble rage,
The linnet born within the cage,
That never knew the summer woods:
I envy not the beast that takes
His license in the field of time,
Unfetter'd by the sense of crime,
To whom a conscience never wakes;
Nor, what may count itself as blest,
The heart that never plighted troth
But stagnates in the weeds of sloth;
Nor any want-begotten rest.

I hold it true, whate'er befall;
I feel it, when I sorrow most;
'Tis better to have loved and lost
Than never to have loved at all.


Lord Alfred Tennyson,
(England 1809 -1892)

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desintegração



Eu tenho o coração cheio de coisas para dizer...
E a minha voz, se eu acaso falasse,
teria a força de uma revelação!

Meu espírito palpita ao ritmo desordenado e aflito
de asas prisioneiras que se dilaceraram
na arrancada impossível da libertação e da altura.

Minhas mãos tremem ainda ao contato
imaterial, sobre-humano e fugitivo
de qualquer coisa além e acima deste mundo...

Adormeceu para sempre no fundo dos meus olhos
a saudade de paisagens estranhas e longínquas,
que nunca, nunca mais voltarão neste tempo e neste espaço.

Doem meus olhos. Tremem, ansiosas, as minhas mãos.
Meu espírito palpita. Tenho o coração cheio de coisas para dizer...
Eu estou vivo, Senhor! mas, em verdade, é como se estivesse morto...


Abgar Renault
(Barbacena, 15 de abril de 1901 —
Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1995-)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

TO EMILY DICKINSON


Foto by Fernando Campanella


Emily, what is this from you
that play so tender strings
in me?

What is it -
a certain rainbow
tha transcend colours,
a broom that sweeps
etherial seas?

Or a sweetest clover
which you drink from,
o, translucent bee?

(Fernando Campanella)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

CREPUSCULAR



Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção em que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencida de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...

Raul de Leoni
(Rio de Janeiro-1895-1926)