quarta-feira, 28 de julho de 2010

Abro a minha boca e o mar se regozija...


Abro a minha boca e o mar se regozija
E leva as minhas palavras a suas escuras grutas
E às suas focas pequenas as murmura
Nas noites em que choram os tormentos do homem.

Abro as minhas veias e enrubram-se os meus sonhos
Transformam-se em arcos para os bairros dos meninos
E em lençóis para as raparigas que velam
Para ouvir às ocultas os prodígios do amor.

Aturde-me a madressilva e desço ao meu jardim
E enterro os cadáveres dos meus mortos secretos
E às estrelas traídas que eram suas
Corto o cordão dourado pra caírem no abismo

O ferro enferruja e eu castigo o seu século
Eu que já experimentei a dor de mil pontas
Com violetas e narcisos a nova
Faca vou preparar que convém aos Heróis.

Desnudo o meu peito e os ventos se desatam
E vão varrer as ruínas e as almas destruídas
Das espessas nuvens limpam a terra
Pra que surjam à luz os Prados encantados.

Odysséas Elytis
Tradução de Manuel Resende.

Odysséas Elytis (pseudônimo de Odysseas Alepoudelis) nasceu na ilha de Creta no dia 2 de Novembro de 1911. Em 1960 recebeu o seu primeiro prêmio de poesia, ao qual se seguiram outros e o Prêmio Nobel da Literatura em 1979. Faleceu no dia 18 de Março de 1996.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Ave, Tao


Ame o belo, ame o tosco
ame o pai
o filho
ou o espírito de louco.
Mas ame.

Ame cedo, sob alegrias de Vésper
(...)
Ame o conhecimento do amor
e as formas de amor
o amor frater
os mil amores.
Ame o amor que já ousa dizer seu nome.
(...)
Ame réptil, ame erectus, ame sapiens.

Mire-se em beleza e pó de anatomias fugidias.
Ame Sírius, a luz difusa, e as Graças
- e a asa errática do Espírito sobre as águas.
Ame símile, ame díspar, ame incondicional.

Ama et labora.

Salve, Paz do Deus dos homens,
Ave, Tao.


Fernando Campanella

domingo, 18 de julho de 2010

THE OVEN BIRD


There is a singer everyone has heard,
Loud, a midsummer and a midwood bird,
Who makes the solid tree trunks sound again.
He says that leaves are old and that for flowers
Midsummer is to spring as one to ten.
He says the early petal fall is past
When pear and cherry bloom went down in showers
On sunny days a moment overcast;
And comes that other fall we name the fall.
He says the highway dust is over all.
The bird would cease and be as other birds
But that he knows in singing not to sing.
The question that he frames in all but words
Is what to make of a diminished sing.


Roberto Frost
(1874-1963)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

The Lake

(Claude Monet)

Water lilies load all over
The blue lake amid the woods,
That imparts, while in white circles
Startling, to a boat its moods.

And along the strands I'm passing
Listening, waiting, in unrest,
That she from the reeds may issue
And fall, gently, on my breast;

That we may jump in the little
Boat, while water's voices whelm
All our feelings; that enchanted
I may drop my oars and helm;

That all charmed we may be floating
While moon's kindly light surrounds
Us, winds cause the reeds to rustle
And the waving water sounds.

But she does not come; abandoned,
Vainly I endure and sigh
Lonely, as the water lilies
On the blue lake ever lie.


Mihai Eminescu
(1876, Translated by Dimitrie Cuclin)