domingo, 11 de novembro de 2012

''AO COMPASSO DE UM TANGO''




 
desperto-me em emoções espargidas,
poeira de velhos mundos

a dançar estrelas revividas. . .


abraço soluços do amar
entre sorrisos de águas
enamorados de som-luar. . .


num derramar-se de alma
há beijos florindo horizontes
sob olhares perdidos em calma. . .


e vestindo pedaços de infância
num cortejo de juventude ilusão
- breves sonhos!
ao embarcar nas distancias. . .


Mas, ao compasso de um tango,
eu ainda,
sonho, revivo e amo!



Alviana Tzovenos
In: Buscas de Infinitos

terça-feira, 31 de julho de 2012

***


Todas as coisas do Universo tem sua linguagem. Só a poesia pode guardar em sua essência a voz colorida das flores e as cismas do dia que morre.

Paulo Bomfim
de 'O colecionador de minutos'.

terça-feira, 20 de março de 2012

NUVEM MANSA


Minúscula, branca,
leve, sem rumor,
bóia no azul uma nuvem:
volve teus olhos e sente
como em seu alvo frescor te conduz
feliz por entre sonhos azuis.


Hermann Hesse
In: Andares

AZUL – TARDE


Ó pura, maravilhosa visão
- quando entre púrpura e ouro,
grave e propício, vais baixando em paz,
resplandecente azul do céu da tarde!


Lembras um mar azul onde a fortuna
com a âncora se encerra
num bendito repouso. Cai do remo
a última gota de mágoa da terra.



Hermann Hesse
In: Andares

CHEIRO DE OUTONO


Mais uma vez é um verão que nos abandona,
agonizando num temporal atrasado:
tranquila a chuva rumoreja, enquanto um cheiro
amargo e tímido vem do bosque molhado.

Na relva pálida a liliácea se retesa
em meio a grande profusão de cogumelos;
tem-se a impressão de que se esconde e se retrai
o nosso vale, ontem ainda imenso e belo.

Retrai-se e cheira a timidez e a amargura
o mundo, com toda a claridade perdida:
prontos, olhamos o temporal atrasado,
pois acabou-se o sonho de verão da vida!

Hermann Hesse
In Andares
tela de Dmitry Spiros

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

POESIA, VERSÍCULOS


I

Tão real em sua idealidade,
não é de facto, nem de prosa.

II

Vem de longes, sem anúncio ou alarde -
de quando era a cor da pele a palavra.

III

Abro-lhe a janela, que se hospede
mas que arrume novamente o quarto.

IV

Bate-me com os pés seu ritmo,
faz-me dançar qual índio, imberbe.

V

Vive a me lembrar seus cânones,
intemporal, nem se importa
com que os ventos mudem
e que com eles girem as palavras.

VI

Fica o tempo que determina,
que lhe agrada.

VII

Quando parte, sem acordo de volta,
deixa-me síncopes, lapsos
que entrecortam madrugadas.

Fernando Campanella

(Fotografia de Fernando Campanella)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O HAVER


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
- Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história.

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e o mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

15/04/1962

Vinicius de Moraes
A poesia acima foi extraída do livro "Jardim Noturno - Poemas Inéditos", Companhia das Letras - São Paulo, 1993, pág. 17.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Three—With the Moon and His Shadow

With a jar of wine I sit by the flowering trees.
I drink alone, and where are my friends?
Ah, the moon above looks down on me;
I call and lift my cup to his brightness.
And see, there goes my shadow before me.
Ho! We're a party of three, I say,—
Though the poor moon can't drink,
And my shadow but dances around me,
We're all friends to-night,
The drinker, the moon and the shadow.
Let our revelry be meet for the spring time!

I sing, the wild moon wanders the sky.
I dance, my shadow goes tumbling about.
While we're awake, let us join in carousal;
Only sweet drunkenness shall ever part us.
Let us pledge a friendship no mortals know,
And often hail each other at evening
Far across the vast and vaporous space!

Li Po