Mostrando postagens com marcador Adalgisa Nery. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Adalgisa Nery. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 25 de junho de 2009

POEMA



Antes que seja tarde
Quero recolher a luz que multiplica as folhas,
Que está suavemente redobrando as cores na superfície dos mares
E destacando para os meus olhos
Os movimentos dos insetos, a plumagem dos pássaros
Como a atração de um brinquedo
Diante de uma criança
Quero recolher dentro da minha mão trêmula e espalmada
Um pouco do calor do sol
Que está aquecendo os canteiros em flor
E gesticulando em surdina as raízes sob a terra.
Quero recolher a tarde desde a primeira hora
Que vem caindo docemente sobre o universo
Para não perder a gestação das sombras
No ventre da noite
As sombras que são amigas da sombra do meu corpo.
Antes que seja tarde
Quero levantar meu rosto
À luz da lua
Essa luz fria e azulada
Que ilumina os oceanos distantes,
Que se deita sobre as praias desertas
E que se alarga no silêncio dos cemitérios
Para recolher a claridade do dia
E a expansão grandiosa da noite,
Os seus olhos estarão irremediavelmente vazios
Para o contato dos acontecimentos.



Adalgisa Nery
in Cantos da Angústia

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Razões Conjugadas



Da tristeza, tempo nascido do sonho,
Formaram-se o vento, as águas mansas,
A escuridão úmida sob o sol,
A neve amortalhando as distâncias,
O pranto confuso,
O silêncio compacto, tão pesado.

No caminho já pisado por mil pés
Há relva à procura da luz imaculada.

Tão relva quanto tão estrela
Ambas em tristeza confirmadas
Como o pranto tão confuso, tão chorado,
O silêncio tão compacto, tão pesado.
Ações do corpo conjugadas
Às canções que permanecem ocultas
À voz alegre dos rios,
Ao vôo das asas alumbradas.
Cárceres de sonhos e temores,
Desejos de morte sobre mortes,
No pranto tão confuso, tão chorado,
No silêncio tão compacto, tão pesado.


Adalgisa Nery
in "Erosão"