quinta-feira, 25 de junho de 2009

POEMA



Antes que seja tarde
Quero recolher a luz que multiplica as folhas,
Que está suavemente redobrando as cores na superfície dos mares
E destacando para os meus olhos
Os movimentos dos insetos, a plumagem dos pássaros
Como a atração de um brinquedo
Diante de uma criança
Quero recolher dentro da minha mão trêmula e espalmada
Um pouco do calor do sol
Que está aquecendo os canteiros em flor
E gesticulando em surdina as raízes sob a terra.
Quero recolher a tarde desde a primeira hora
Que vem caindo docemente sobre o universo
Para não perder a gestação das sombras
No ventre da noite
As sombras que são amigas da sombra do meu corpo.
Antes que seja tarde
Quero levantar meu rosto
À luz da lua
Essa luz fria e azulada
Que ilumina os oceanos distantes,
Que se deita sobre as praias desertas
E que se alarga no silêncio dos cemitérios
Para recolher a claridade do dia
E a expansão grandiosa da noite,
Os seus olhos estarão irremediavelmente vazios
Para o contato dos acontecimentos.



Adalgisa Nery
in Cantos da Angústia

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