Mostrando postagens com marcador Alberto da Cunha Melo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Alberto da Cunha Melo. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 6 de julho de 2009

RELÓGIO DE PONTO



Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria
retardar o nosso regresso,
um inesperado companheiro
marcará o nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.


Alberto da Cunha Melo

'Casa vazia'



Poema nenhum, nunca mais
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,


para esse público dos ermos,
composto apenas de nós mesmos,


uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas,
seu deserto particular;


ou cães latindo, noite e dia,
dentro de uma casa vazia.


*Alberto da Cunha Melo
in Meditação sob os Lajedos.
*Premio de Poesias da ABL-2.007-