segunda-feira, 23 de maio de 2011
Como é que a Solidão Hei-de Ir Medindo?
Como é que a solidão hei-de ir medindo?
desse-me os golpes de uso inda esta dor
um a um sua nudez a sobrepor
que o ritmo sem nome a foi vestindo
mas sofro agora o tempo nu saindo
numa levada sem nenhum teor
gasto caudal do meu rio interior
nem chora o peito por mais gritos vindo
Quando é que é novo ano na amargura
quando volto a chegar-me à desventura
que me faz falta em ocos dias vis.
ah quando é que arde escura em cores febris
à testa do ano como a vi na altura
do agosto em chamas funda cicatriz?
Walter Benjamin,
in "Sonetos"
Tradução de Vasco Graça Moura
quarta-feira, 18 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
ETERNA CHUVA
Chove lá fora e a chuva apaga a poeira
Da minha estrada que não tem mais fim!
Seria bom que pela vida inteira
Essa chuva caísse sobre mim!
Sinto que a minha estrada sem palmeira,
Deserta, vasta e prolongada assim,
Impulsiona a minha alma sem canseira,
Para o mundo esquisito do senfim!
E eu marcho resoluto para a frente!
Cai-me a chuva nos ombros, de repente
Eu mais apresso a minha caminhada!
E assim prossigo nesse sonho eterno,
Sob a sentença de um constante inverno,
Sem promessas de sol na minha estrada!
Jansen Filho
In: Obras Completas
Da minha estrada que não tem mais fim!
Seria bom que pela vida inteira
Essa chuva caísse sobre mim!
Sinto que a minha estrada sem palmeira,
Deserta, vasta e prolongada assim,
Impulsiona a minha alma sem canseira,
Para o mundo esquisito do senfim!
E eu marcho resoluto para a frente!
Cai-me a chuva nos ombros, de repente
Eu mais apresso a minha caminhada!
E assim prossigo nesse sonho eterno,
Sob a sentença de um constante inverno,
Sem promessas de sol na minha estrada!
Jansen Filho
In: Obras Completas
domingo, 8 de maio de 2011
ESCOTOMAS
Não sei
o que é um espírito. Ninguém
conhece a fundo a luz do seu abismo
enquanto o vento, à noite, vai abrindo
as infinitas portas de uma casa
vazia. A minha voz
procura responder a outra voz,
ao choro dos espectros que celebram
a sua missa negra, o seu eterno
sobressalto. Num ermo
da cidade magoada escuto ainda
o rumor de um oráculo,
a febre de um adeus que se prolonga
no estertor dos ponteiros de um relógio,
nesse ritmo feroz, na pulsação
do meu sangue exilado que recorda
um abrigo divino. pai nosso, que estás
entre o céu e a terra, conduz-me
ao precipício onde hibernou a alma
e ensina-me a romper a madrugada
como se a minha face fosse
um estilhaço da tua
e nela derretessem, por milagre,
estas gotas de gelo ou de cristal
que não sabem ser lágrimas.
Fernando Pinto do Amaral
(Portugal)
sexta-feira, 6 de maio de 2011
The Tears of Heaven
Heaven weeps above the earth all night till morn,
In darkness weeps, as all ashamed to weep,
Because the earth hath made her state forlorn
With selfwrought evils of unnumbered years,
And doth the fruit of her dishonour reap.
And all the day heaven gathers back her tears
Into her own blue eyes so clear and deep,
And showering down the glory of lightsome day,
Smiles on the earth's worn brow to win her if she may.
Lord Alfred Tennyson
Tears, Idle Tears
Tears, idle tears, I know not what they mean,
Tears from the depth of some divine despair
Rise in the heart, and gather to the eyes,
In looking on the happy autumn-fields,
And thinking of the days that are no more.
Fresh as the first beam glittering on a sail,
That brings our friends up from the underworld,
Sad as the last which reddens over one
That sinks with all we love below the verge;
So sad, so fresh, the days that are no more.
Ah, sad and strange as in dark summer dawns
The earliest pipe of half-awakened birds
To dying ears, when unto dying eyes
The casement slowly grows a glimmering square;
So sad, so strange, the days that are no more.
Dear as remembered kisses after death,
And sweet as those by hopeless fancy feigned
On lips that are for others; deep as love,
Deep as first love, and wild with all regret;
O Death in Life, the days that are no more!
Lord Alfred Tennyson
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Inutilmente
Floriram os ipês ali da praça
e, quando a gente passa,
-porque o vento as derruba em profusão –
vai esmagando flores pelo chão.
Como ciclópica oficina
pulsa, ao redor, a vida citadina.
Arranha-céus fugindo para o alto
numa arquitetura funcional;
automóveis rodando sobre o asfalto
e, de fundas angústias carregada,
a multidão correndo, alucinada,
vazia de Ideal.
Babélica, apressada,
toda essa gente não repara em nada:
não vê, em cima, a loira floração,
nem vê que pisa em flores pelo chão.
Os ipês se enfloraram, mas em vão . . .
Sua mensagem clara, colorida,
-um hino de louvor ao Belo e à Vida –
fica rolando, inútil, pelo chão,
fica, inútil, rolando pelo ar,
pois os homens não sabem mais sonhar.
Graciette Salmon
In: A Vida Por Dentro
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