sábado, 14 de novembro de 2009

Eu sou



Eu sou, mas o que eu sou quem cuida ou sabe?
Em meus amigos um lembrar perdido.
Gastar as minhas mágoas a mim cabe -
erguem-se e passam num revoar esquecido,
sombras de amor que a própria ânsia esmaga -
mas sou, e vivo - como névoa vaga


lançada ao nada de uma vácua lida,
ao vivo mar dos sonhos acordados,
onde não há qualquer senso da vida,
mas o naufrágio só dos bens passados.
Até os mais caros, meu amor mais fundo,
estranhos me são, ou mais que todo o mundo.


Anseio terras que ninguém pisou,
onde mulher nunca sorriu nem chora,
e onde me unir ao Deus que me criou,
para dormir como na infância outrora -
sem que nenhum cuidado seja meu:
erva por baixo, e acima o curvo céu.


John Clare
(in «Poesia de 26 Séculos»
Antologia, tradução, prefáio
e notas de Jorge de Sena,
Edições ASA, 2001)


I am

I am! yet what I am who cares, or knows?
My friends forsake me like a memory lost.
I am the self-consumer of my woes;
They rise and vanish, an oblivious host,
Shadows of life, whose very soul is lost.
And yet I am—I live—though I am toss’d

Into the nothingness of scorn and noise,
Into the living sea of waking dream,
Where there is neither sense of life, nor joys,
But the huge shipwreck of my own esteem
And all that’s dear. Even those I loved the best
Are strange—nay, they are stranger than the rest.

I long for scenes where man has never trod—
For scenes where woman never smiled or wept—
There to abide with my Creator, God,
And sleep as I in childhood sweetly slept,
Full of high thoughts, unborn. So let me lie,—
The grass below; above, the vaulted sky.


John Clare

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