quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Desintegração



Eu tenho o coração cheio de coisas para dizer...
E a minha voz, se eu acaso falasse,
teria a força de uma revelação!

Meu espírito palpita ao ritmo desordenado e aflito
de asas prisioneiras que se dilaceraram
na arrancada impossível da libertação e da altura.

Minhas mãos tremem ainda ao contato
imaterial, sobre-humano e fugitivo
de qualquer coisa além e acima deste mundo...

Adormeceu para sempre no fundo dos meus olhos
a saudade de paisagens estranhas e longínquas,
que nunca, nunca mais voltarão neste tempo e neste espaço.

Doem meus olhos. Tremem, ansiosas, as minhas mãos.
Meu espírito palpita. Tenho o coração cheio de coisas para dizer...
Eu estou vivo, Senhor! mas, em verdade, é como se estivesse morto...


Abgar Renault
(Barbacena, 15 de abril de 1901 —
Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1995-)

Um comentário:

  1. Oi, Mada, lindo poema em forma de oração. Uma confissão, uma expressão das profundezas da alma, do homem com Deus. Abgar Renault é meu conterrâneo, tem a alma de Minas. Grande abraço, obrigado pela linda postagem do poema meu dedicado á Emily.

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