sexta-feira, 11 de dezembro de 2009



Ao ver da ave austera e escura a soteníssima figura,
desperta em mim um leve riso, a distrair-me de meus
ais.
“Sem crista embora, ó Corvo antigo e singular” - então lhe
digo -
"não tens pavor; fala comigo, alma da noite, espectro
torvo, qual é o teu nome, ó nobre Corvo, o nome teu
[o inferno torvo!"

E o Corvo disse: "Nunca mais".

Maravilhou-me que falasse uma ave rude dessa classe,
misteriosa esfinge negra, a retorquir-me em termos tais,
Pois nunca soube de vivente algum, outrora ou no
presente,
que igual surpresa experimente: a de encontrar, em sua
porta,
uma ave (ou fera, pouco importa) empoleirada, em sua porta,
e que se chama "Nunca mais".



Edgar Allan Poe
Excerto do ensaio 'A filosofia da Composição'
Poemas e Ensaios. (Trad. Oscar Mendes e Milton Amado).
São Paulo: Globo, 1999. 3. ed. revista.

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