terça-feira, 29 de setembro de 2009
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*(Mariposa esginge colibri-Hummingbird Hawk Moth)
Devolve-me o livro da alma
que há muito me tomaste -
esfinge minha -
pois tu, somente tu, o escreves:
concedes-me a palavra por escudo
enquanto me devoras na entrelinha.
Fernando Campanella
*The Hummingbird Hawk-moth (Macroglossum stellatarum) is a species of Sphingidae, hawk moth with a long proboscis, which regularly hovers, making an audible humming noise. These two features make it look remarkably like a hummingbird when it feeds on flowers; it is theorised that this is a result of convergent evolution. It flies during the day, especially in bright sunshine, but also at dusk, dawn, and even in the rain, which is unusual for even diurnal hawkmoths. Its visual abilities have been much studied, and it has been shown to have a relatively good ability to learn colours.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Passeio à noite
Bem tarde passeio pela empoeirada rua,
A sombra dos muros já se alongam,
Por entre videiras vejo a lua
caindo sobre o riacho e o caminho.
Canções, outrora entoadas,
Baixinho tento afinar,
Inúmeras caminhadas
Sombras a me encruzilhar.
Vento e neve, calor do sol
Tantos anos me recordam,
Noite de verão, raio azul
Na viagem desventura e tormenta.
Bronzeado e possuído
Pela imensidão desse mundo
Sinto-me ainda atraído
Até meu caminho cair no escuro.
Hermann Hesse
In: Caminhada
sábado, 26 de setembro de 2009
To Nature
It may indeed be phantasy, when I
Essay to draw from all created things
Deep, heartfelt, inward joy that closely clings ;
And trace in leaves and flowers that round me lie
Lessons of love and earnest piety.
So let it be ; and if the wide world rings
In mock of this belief, it brings
Nor fear, nor grief, nor vain perplexity.
So will I build my altar in the fields,
And the blue sky my fretted dome shall be,
And the sweet fragrance that the wild flower yields
Shall be the incense I will yield to Thee,
Thee only God ! and thou shalt not despise
Even me, the priest of this poor sacrifice.
Samuel Taylor Coleridge
Coleridge X Campanella
He looked at his own soul with a telescope.
What seemed all irregular, he saw and shewed to be beautiful constellations:
and he added to the consciousness hidden worlds within worlds.
- Samuel Taylor Coleridge-
(England 1772-1834)
What seemed all irregular, he saw and shewed to be beautiful constellations:
and he added to the consciousness hidden worlds within worlds.
- Samuel Taylor Coleridge-
(England 1772-1834)
Ele observou sua própria própria alma com um telescópio. O que parecia total irregularidade, ele enxergou e mostrou como lindas constelações: e à consciência ele integrou mundos ocultos dentro de outros mundos
Samuel Taylor Coleridge
Tradução de Fernando Campanella
.
Samuel Taylor Coleridge
Tradução de Fernando Campanella
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Samuel Taylor Coleridge
April Love
We have walked in Love’s land a little way,
We have learnt his lesson a little while,
And shall we not part at the end of day,
With a sigh, a smile?
A little while in the shine of the sun,
We were twined together, joined lips, forgot
How the shadows fall when the day is done,
And when Love is not.
We have made no vows—there will none be broke,
Our love was free as the wind on the hill,
There was no word said we need wish unspoke,
We have wrought no ill.
So shall we not part at the end of day,
Who have loved and lingered a little while,
Join lips for the last time, go our way,
With a sigh, a smile?
Ernest Dowson
(London- 1867-1900)
SKETCH
The shadows of the ships
Rock on the crest
In the low blue lustre
Of the tardy and the soft inrolling tide.
A long brown bar at the dip of the sky
Puts an arm of sand in the span of salt.
The lucid and endless wrinkles
Draw in, lapse and withdraw.
Wavelets crumble and white spent bubbles
Wash on the floor of the beach.
Rocking on the crest
In the low blue lustre
Are the shadows of the ships.
Carl Sandburg
Uma canção
Por detrás dos meus olhos há águas
Tenho de as chorar todas.
Tenho sempre um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.
Respirar cores com os ventos
Nos grandes ares.
Oh, como estou triste...
O rosto da lua bem o sabe.
Por isso, à minha volta há muita devoção aveludada
E madrugada a aproximar-se.
Quando as minhas asas se quebraram
Contra o teu coração de pedra,
Caíram os melros, como rosas de luto,
Dos altos arbustos azuis.
Todo o chilreio reprimido
Quer jubilar de novo
E eu tenho um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.
Else Lasker-Schüler
(Alemanha-1869-1945)
WAS THERE A TIME
Was there a time when dancers with their fiddles
In children's circuses could stay their troubles?
There was a time they could cry over books,
But time has sent its maggot on their track.
Under the arc of the sky they are unsafe.
What's never known is safest in this life.
Under the skysigns they who have no arms
have cleanest hands, and, as the heartless ghost
Alone's unhurt, so the blind man sees best.
Dylan Thomas
(England- 1914-1953)
XV
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Sopra-me
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Quando tornar a vir a Primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a Primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer.
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.
Alberto Caeiro
(Fernando Pessoa)
terça-feira, 22 de setembro de 2009
"Only the dead don't die"
Only they are left me,
they are faithful still
whom death's sharpest knife can no longer kill.
At the turn of the highway, at the close of day
they silently surround me, they quietly go my way.
A true pact is ours, a tie time cannot dissever.
Only what I have lost is what I possess forever.
Rachel Bluwstein
(Russia- 1890-1931)
UMA ESPÉCIE DE PERDA
Usamos a dois: estações do ano, livros e uma música.
As chaves, as taças de chá, o cesto do pão, lençóis e linho e uma
cama.
Um enxoval de palavras, de gestos, trazidos, utilizados,
gastos.
Cumprimos o regulamento de um prédio. Dissemos. Fizemos.
E estendemos sempre a mão.
Apaixonei-me por Invernos, por um septeto vienense e por
Verões.
Por mapas, por um ninho de montanha, uma praia e uma
cama.
Ritualizei datas, declarei promessas irrevogáveis,
idolatrei o indefinido e senti devoção perante um nada,
( - o jornal dobrado, a cinza fria, o papel como um aponta- mento)
sem temores religiosos, pois a igreja era esta cama.
De olhar o mar nasceu a minha pintura inesgotável.
Da varanda podia saudar os povos, meus vizinhos.
Ao fogo da lareira, em segurança, o meu cabelo tinha a sua cor
mais intensa.
A campainha da porta era o alarme de minha alegria.
Não perdi a ti,
perdi o mundo.
Ingeborg Bachmann
Trad:Judite Berkemeier e João Barrento)
(Austria -1926-1973)
segunda-feira, 21 de setembro de 2009
Por Entre Os Sons da Música
Por entre os sons da música, ao ouvido
como a uma porta que ficou entreaberta
o que se me revela em ter sentido
é o que por essa música encoberta
acena em vão do outro lado dela
e eu sinto como a voz que respondesse
ao que em mim não chamou nem está nela,
porque é só o desejar que aí batesse.
Vergílio Ferreira,
in 'Conta-Corrente 1'
Feliz Ano 5.770 !!!
sábado, 19 de setembro de 2009
Fim das Ruas
Morre a numeração cansada;
este é um limite. Daqui,
o horizonte prolonga a solidão de areia.
Uma chama pestaneja pelas noites,
ilumina um pedaço de pão compartilhado.
Todo possível ruído
foge em silêncio;
só os cachorros adoram a lua.
O frio trêmulo lastima a pobreza
e já é desprezada a bela chuva
pelo seu costume de invadir as casas.
Morrer-se aqui é apagar os olhos
para não ver os sofrimentos.
Todos usam palavras iguais para o morto:
tem um rosto tão sereno.
Choro de uma criança nova!
Há outro herdeiro dos sofrimentos.
Arturo Herrera
Tradução de Ronaldo Cagiano
(1974- Argentina)
Chuva
(Imagem de Steve Johnston)
Chuva morna, chuva de verão
Borbulha de arvores e arbustos.
Oh! Como é bom e cheio de benção
Uma vez mais sonhar de verdade!
Quanto tempo fiquei aqui fora,
Quão estranha essa sensação:
Habitar a própria alma,
O estranho, sem atração.
Nada quero, nada peço.
Baixinho cantarolo sons de criança,
E, surpreso, chego ao berço
Dos sonhos quentes de folgança.
Coração, como estás machucado
Porem feliz, remexendo cegamente,
Nada pensar, nada saber,
Respirar e sentir, somente.
Hermann Hesse
In: Caminhada
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
QUASE UM DEVANEIO
Renasce o dia, pressinto-o
no alvor de prata gasta
pelos muros:
Uma luz frouxa listra as janelas fechadas.
Retorna o acontecimento do sol
mas sem as vozes difusas,
os estrépitos habituais.
Por que? Penso em um dia enfeitiçado
e da ronda das horas sempre iguais
me desforro. Transbordará a força
que em mim crescia, inconsciente mago,
há tanto tempo. Então me assomarei à janela,
farei sumir as altas casas, as alamedas vazias.
Terei diante de mim uma paisagem de neve intacta
mas suave como se numa tapeçaria.
Deslizará no céu flocoso um raio tardio.
Prenhes de luzes invisíveis selvas e colinas
me farão o elogio dos alegres regressos.
Lerei feliz os negros
sinais dos ramos contra o branco
como um alfabeto essencial.
Todo o passado de uma só vez
se fará presente.
Som algum turbará
essa alegria solitária.
Riscará o ar
ou pousará numa estaca
alguma pega.
Eugenio Montale
Poesias(Trad. de Geraldo Holanda Cavalcanti)
(Itália 1896-1981)
sábado, 12 de setembro de 2009
A chuva...
A chuva entorna na paisagem calma
uma indolência de abandono e sono.
Paisagem triste como a de minha alma...
A chuva é um longo sono de abandono...
Olho através do espelho da vidraça:
dorme o jardim sob os soluços da água...
Na rua, alguém cantarolando passa,
cantarolando a minha própria mágoa.
Quem será esse vulto que se apossa
da fina dor que em minha vida existe,
para cantá-la assim, num ar de troca,
de uma maneira que me põe mais triste?
E olho através do espelho da vidraça:
dorme o jardim sob os soluções da água.
Na rua adormecida, ninguém passa...
A chuva canta a minha própria mágoa.
Onestado de Pennafort
in Poesia
Escada de Sonho...
Sobe ao céu meu pensamento,
Como uma espiral de incenso...
E eis numa névoa de sol,
Minha escada de Jacó!
É por ela, quando cismo,
Que desces ao meu abismo...
E ascendo aonde vives tu
Entre as estrelas, no Azul...
A escada de sonho, à tarde,
É um íris para a saudade.
É a luz eterna do Amor
Que irradia entre nós dois...
E eleva-se o pensamento,
Além da morte e do tempo.
Da Costa e Silva
TARDE
A febre da tarde
Se chama tarde,
Velho sono arrancado,
Cedo demais para ser noite,
Sem outro nome, pois não há nome
De tarde além da tarde.
o amor tenta falar mas soa
Tão perto em seu próprio ouvido.
Os tic-tacs escutam
O que os tic-tacs retrucam.
A febre preenche onde gargantas se mostram,
Mas nesses horrores nada tenta engolir
Enquanto a sede persegue a tarde
Até o rouco pôr-da-sol.
O entardecer surge com bocas
Quando a tarde pode falar.
A ceia e a cama começam e terminam
E o amor obscurece o pensar.
Mais tardes dividem a noite,
Novo sono arrancado,
Suspensão desperta entre sonho e sonho
Nunca soubemos quanto.
O sol se atrasa por horas de logo e logo
Então chega a febre veloz chamada dia.
Mas a febre lenta se chama tarde.
Laura Riding
tradução: Rodrigo Garcia Lopes
terça-feira, 8 de setembro de 2009
INSTANCIA
Quem volta ao lugar perdido
quer ver o tempo.
Não vê a casa, o muro, o degrau mais fino:
quer no bater do coração o antigo.
Espanta a resistência daquela arvore,
a mesma e outra nesta floração.
Espanta a cor fiel dos azulejos,
a penumbra e o tom daquele quarto
desenhados na pauta de outros olhos.
Quem retorna não mora no outro tempo,
embora imite o rosto o ancestral.
Quem retorna medita.
Não cruza o corredor
como planava a mosca distraída.
Pode-se sentar na escada, prover os olhos
com a massa do cenário inocente.
Livre-se o coração para a verdade
desta arvore em gala de outro amor.
Alcides Villaça
In: Viagem de Trem
domingo, 6 de setembro de 2009
Às vezes
Às vezes julgo ver nos meus olhos
A promessa de outros seres
Que eu podia ter sido,
Se a vida tivesse sido outra.
Mas dessa fabulosa descoberta
Só me vem o terror e a mágoa
De me sentir sem forma, vaga e incerta
Como a água.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Portugal-1919-2004)
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Sophia de Mello Bryner Andresen
sexta-feira, 4 de setembro de 2009
Identificação
Eu me diluí na alma imprecisa das coisas.
Rolei com a Terra pela órbita do infinito,
Jorrei das nuvens com a torrente das chuvas
E percorri o espaço no sopro do vento;
Marulhei na corrente inquietadora dos rios,
Penetrei a nudez milenar das montanhas;
Desci ao vácuo silencioso dos abismos;
Circulei a seiva das plantas,
Ardi no olhar das feras,
Palpitei nas asas das pombas;
Fui sublime n'alma do homem bom
E desprezível no coração do mesquinho;
Inebriei-me da alegria do venturoso;
E deslizei dolorosamente na lágrima do infeliz.
Nada encontrei mais doloroso,
Mais eloqüente,
Mais grandioso
Do que a tragédia cotidiana
Escrita em cada vida humana.
Helena Kolody
(Paraná-1912-2004)
CANTIGA OUTONAL
Outono. As árvores pensando ...
Tristezas mórbidas no mar ...
O vento passa, brando ... brando ...
E sinto medo, susto, quando
Escuto o vento assim passar ...
Outono. Eu tenho a alma coberta
De folhas mortas, em que o luar
Chora, alta noite, na deserta
Quietude triste da hora incerta
Que cai do tempo, devagar ...
Outono. E quando o vento agita,
Agita os galhos negros, no ar,
Minha alma sofre e põe-se aflita,
Na inconsolável, na infinita
Pena de ter de se esfolhar ...
Cecília Meireles
In Nunca Mais e Poema dos Poemas
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