sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Identificação



Eu me diluí na alma imprecisa das coisas.
Rolei com a Terra pela órbita do infinito,
Jorrei das nuvens com a torrente das chuvas
E percorri o espaço no sopro do vento;
Marulhei na corrente inquietadora dos rios,
Penetrei a nudez milenar das montanhas;
Desci ao vácuo silencioso dos abismos;
Circulei a seiva das plantas,
Ardi no olhar das feras,
Palpitei nas asas das pombas;
Fui sublime n'alma do homem bom
E desprezível no coração do mesquinho;
Inebriei-me da alegria do venturoso;
E deslizei dolorosamente na lágrima do infeliz.

Nada encontrei mais doloroso,
Mais eloqüente,
Mais grandioso
Do que a tragédia cotidiana
Escrita em cada vida humana.


Helena Kolody
(Paraná-1912-2004)

Um comentário:

  1. Poema lindíssimo, acompanhado por tão bela melodia! Sinto-me transportada para a consciência, tantas vezes adormecida. Vestida por reflexivos versos, sou compelida a analisar os meus passos, observar o que faço, para seguir em frente, resoluta e firme, a procura do habitat da alma que mora em mim.
    Obrigada, amiga querida!
    É uma oração, essa IDENTIFICAÇÃO.
    Beijo grandão da
    Genaura Tormin

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