segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Pássaros


(Foto by Fernando Campanella)

A primavera de New England
não traz seus pássaros à minha janela.
Mas por que penso naqueles cantos
se nem os pássaros de meu velho rio
ou de minhas conhecidas árvores
vêm ao meu jardim cantar?


Só cantam para si próprios,
o martim- pescador, a corrila ,
o joão-de-barro atribulado.


Pensando melhor, nem mesmo pardais,
nenhum pio, nenhum bemol acasalado
conseguem meu dia despertar.
Ficam por si, longínquos, os canários
e os bem-te-vis nas cercanias .


Como é triste acordar
daquelas ternuras surdo, descantado.
como é áspero raspar do dia o aço.
ranger roldanas de hábitos e ossos.


Cantem para si, para Deus
ou para quem os consiga ouvir
o exótico robin , o cuco e a cotovia.
Nenhum trinado, nenhum grasnar,
vêm alcançar meus ouvidos ruidosos.


Ah, vejam, sou mesmo um rei nu,
um moedor de pedras,
sou aquele imperador da China
que tão pobre era sem seu pássaro -
aquele pobre mandarim ,
a solidão, meu triste rabicho,
a ausência, esta enorme vassala de mim.


Fernando Campanella, 1987

2 comentários:

  1. Obrigado, obrigado, mais uma vez, milhares de vezes, Mada. Novamente, tentando ver de fora, a postagem ficou linda. Bjos.

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  2. Olá amiga!

    Selinho "PAZ NO MUNDO"

    BUSQUE-O AKI
    http://poesiaseternas2.blogspot.com/

    Apenas um carinho meu....Beijos!

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